segunda-feira, 25 de maio de 2009

Capelas do Beco: 1ª Parte


Capela de S. Francisco, na Madroeira


No território que actualmente define a povoação do Beco, os vestígios da presença humana remontam, pelo menos, ao tempo da ocupação muçulmana e são visíveis não só na toponímia de alguns dos lugares, como através das prospecções arqueológicas aí realizadas, reveladoras da existência de diversas sepulturas mouriscas escavadas em afloramentos rochosos. Referem ainda vários autores que, na Serra de São Paulo, estaria localizado o Castelo de Monsalude, importante construção defensiva das possessões sarracenas que se estendiam de Alvaiázere a Vila do Rei. Ao tempo da Reconquista Cristã, este extenso território terá sido conquistado aos mouros e convertido em reguengo, posteriormente fraccionado em várias parcelas, entregues a diferentes forças administrativas. A povoação do Beco integrava, então, a Comenda de Dornes, instituída no ano de 1225 como pertença da Ordem do Templo, mas integrada nas possessões da Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo a partir de 1321, de acordo com o novo reoordenamento administrativo da região ferreirense experimentado na sequência do processo de extinção dos Templários. Apesar de administrativamente dependente da Comenda de Dornes, a Freguesia do Beco é instituída em 1510, no mesmo ano em que é fundada a sua Igreja Matriz, e cerca de três anos antes da própria povoação de Dornes ascender à categoria de Vila. Actualmente, a Freguesia do Beco ocupa uma área total de 15.28 Km2, na qual habitam aproximadamente 1111 habitantes, distribuídos pelos lugares de: Alqueidão de Santo Amaro, Barreirinha, Beco, Brasileira, Carraminheira, Carvalheira, Casal do Nabos, Casal do Zote, Corujeira, Cova do Souto, Cruz dos Canastreiros, Curral do Concelho, Entre Valados, Estrequeiros, Fonte Seca, Gericó, Guardão, Horta da Coelha, Horta Nova, Janafonso, Janalvo, Lameiras, Madroeira, Martimbraz, Milharadas, Outeiro do Marco, Ponte do Alqueidão, Portela do Braz, Quinta da Benta, Quinta da Joana, Quinta do Telhado, Ral, Rebalvia, Ribelas, São Gonçalo, São Jordão, Senhora da Orada, Souto, Valada, Vale da Carreira, Vale do Rocio e Ventoso. No passado, em vários destes lugares existiram pequenos templos de invocação popular, muitos dos quais não sobreviveram aos nossos dias, e raros são os casos em que nos é ainda possível perscrutar as ruínas do que fora outrora os limites das suas paredes. E, quando já nada resta da sua presença material, apenas nos podemos socorrer dos escritos dos antigos cronistas, os quais pacientemente registaram os nomes dos oragos invocados em cada uma dessas capelinhas. Tal é o exemplo das capelas de Nossa Senhora da Esperança, de São Geraldo, de Santa Catarina, de São Pedro ou de São Paulo, todas elas localizadas na Freguesia do Beco, mas das quais não nos chegaram quaisquer vestígios. Nossa Senhora da Esperança e São Geraldo localizavam-se no lugar do Beco, mas em local não específicado pelas fontes, pelo que hoje é quase impossível determinar a sua correcta localização geográfica. Não obstante, o Doutor Bartolomeu de Macedo Malheiro (1726), refere que a Capela de Nossa Senhora da Esperança pertencia ao povo e que havia sido instituída por Frei António Gonçalves, antigo vigário da igreja paroquial de Maçãs de Caminho. Em relação à Capela de São Geraldo, o mesmo cronista assinala que era de invocação particular e que havia sido instituída no ano de 1657, sendo então administrada por D. Maria Antónia de Alvelos, mulher do Desembargador Manuel Nunes e neta do próprio instituidor da capelinha. Possuia ainda um letreiro com a seguinte inscrição: «Bemdito e Louvado seja o Santissimo Sacramento e a Imaculada Conceyção da Virgem Nossa Senhora concebida sem macula do Pecado Original. Esta cappella mandou fazer o Licenciado Manoel de Alvelos Ribeiro e sua molher Izabel Monteira deste lugar. Anno Domini 1657». Mais tarde, o P.e Luis Cardoso (1758) acrescenta alguns dados interessantes à história destes dois templos: por esta altura, a Capela de Nossa Senhora da Esperança pertencia aos herdeiros de Manuel Fernandes, da Vila de Maçãs de Caminho, enquanto que a Capela de São Geraldo pertencia a Estevão de Sá e Mendonça, da Vila das Pias. A Capela de Santa Catarina localizava-se igualmente no lugar do Beco, mas junto à Igreja de Santo Aleixo com a qual compartilhava o adro e, inclusivamente, servia de sacristia à matriz. Este templo, fundado por um testamento datado de 24 de Junho de 1541, teve por instituídores Afonso Fernandes e Margarida Dias. Porém, já em 1726 a capela era administrada pelo Desembargador Baltazar Mendes Bernardes, de Lisboa e, em 1758, por Manuel do Ramalhal, da Freguesia de São Pedro do Rego da Murta. Em relação à Capela de São Pedro, que se localizava no lugar da Rebalvia, poucos dados podem ser acrescentados, tão somente que em 1726 pertencia ao povo. Já a Capela de São Paulo localizar-se-ia no cimo da Serra com o mesmo nome e, em 1672, ainda eram visíveis as ruínas da referida ermida “com seu portal em cantaria de arco e sua tribuna, que na parede se veem buracos de grade de ferro, segundo mostram os buracos”. Por vezes, perscrutando nos lugares e terrenos que as fontes nos indicam, é possível encontrar indícios reveladores da existência de uma construção remota e, com alguma sorte, localizar um antigo templo desaparecido. Tal é o exemplo da Capela de Santo Amaro, localizada no Alqueidão de Santo Amaro e reconhecida pelo Sr. Arq. Fernando Seixas, ou da Capela de Santo António, localizada em Ribelas e identificada pelo Dr. Paulo Alcobia Neves, em cujos respectivos lugares ainda são perceptíveis os vestígios das suas fundações através da terraplanagem dos terrenos ou da persistência de alguns muros arruinados, lápides e restos de telhas e argamassas. No entanto, existem construções que conseguem vencer a intempérie e chegar até nós, apesar de parcialmente arruínadas ou adulteradas. Vêja-se o caso da Capela de São Francisco, localizada no lugar da Madroeira: construída à custa das ruínas de um extinto mosteiro fransciscano e reedificada por volta de 1723 no local em cujas ruínas ainda hoje se mantêm. Hoje, sem cobertura e com as suas paredes quase deitadas por terra, ainda deixa adivinhar o seu traço arquitectónico tipicamente rural. Do mesmo modo, a Capela de São Sebastião, localizada perto do Beco, à muito que deixou de cumprir a sua função cultual. Anexado a uma residência particular e desvirtuado pela intempéride, o pequeno templo foi convertido em armazém, não deixando perceber o propósito com que, originalmente, foi erigido.






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