segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

As Oficinas de Manutenção da Companhia Paulista em Jundiaí

São Paulo | Brasil


INTRODUÇÃO

Em São Paulo, a construção de linhas férreas inicia-se a 24 de Novembro de 1860, sob a responsabilidade da São Paulo Railway, empresa inglesa que havia adquirido a concessão de construção e operação do transporte ferroviário, desde o porto marítimo de Santos até Jundiaí, principal zona agrícola de então, localizada a 60Km da capital. Contando com o financiamento de capital inglês, esta linha férrea seria inaugurada a 16 de Fevereiro de 1867 e, apesar da sua pequena extensão (159Km), teve imenso tráfego e elevada rentabilidade económica.1 Tendo garantido o monopólio de acesso ao Porto de Santos, a atuação da São Paulo Railway centrava-se na ligação litoral-capital-litoral, essencialmente para escoamento da produção agrícola. A ligação do Porto de Santos ao interior do Estado promoveria um surto de desenvolvimento sem precedentes, impulsionando a cultura cafeeira que, deste modo, se converte na principal exploração económica do país, contribuindo efetivamente para a sua industrialização.2



Tendo a São Paulo Railway declinado do direito de prolongar as linhas para o interior do Estado de São Paulo, sob as mesmas condições de financiamento, outra empresa foi criada a partir do interesse de um grupo de fazendeiros, sedeados em Campinas e ligados ao cultivo do café. Assim, a 30 de Janeiro de 1868, era fundada a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, sob a presidência de Clemente Falcão de Sousa Filho, contando com o financiamento local da elite urbana e rural para a construção da ferrovia. Firmou-se então contrato com a Província de São Paulo, com garantia de juros sob o capital investido, iniciando-se a 15 de Março de 1870 a construção do trajeto, com cerca de 45 Km, que ligava Campinas a Jundiaí, conectando-se aí aos trilhos da São Paulo Railway.3

De acordo com Guilherme Pozzer,4 o Governo de São Paulo, na época presidido por Joaquim Saldanha Marinho, apoiava o desenvolvimento ferroviário na região, pois este garantiria a melhoria das condições de transporte entre a cidade de São Paulo, as cidades do interior do Estado e as fazendas de exploração cafeeira que, desta forma, poderiam minimizar os encargos associados ao escoamento do produto e, consequentemente, aumentar as margens de lucro na produção. Por essa razão, a Presidência da Província acompanharia o empreendimento da Companhia Paulista, que se desenvolveria entre as estações ferroviárias de Jundiaí-Samambaia-Valinhos-Campinas, até à data da sua inauguração, a 11 de Agosto de 1872.5

1 Os primeiros estudos de viabilidade para execução de um empreendimento ferroviário que ligasse o porto marítimo de Santos a Jundiaí, foram realizados por iniciativa de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá. O empresário obteve o direito de explorar a linha férrea em 1856 e, três anos depois, lançava em Londres The São Paulo (Brazilian) Railway Company. Esta Companhia teve o mérito de vencer o obstáculo representado pela Serra do Mar, ao desenvolver um sistema de planos inclinados que lhe garantiria o monopólio do acesso ferroviário até ao litoral. Não obstante, a partir da última década de século XIX, a grande quantidade de café a ser exportado colocaria em causa a capacidade de escoamento deste sistema, cujo limite de transporte era cerca de quatro mil toneladas por dia. SOUKEF JUNIOR, Antonio; Os Remanescentes da SPR em Santos e Jundiaí. Memória e descaso com o património ferroviário do país. Centro Universitário FIAM/FAAM, 2012; pp.1-3.

2 De acordo com Odilon Nogueira de Matos, “o café alterou a fisionomia física, humana, social, cultural e económica do Estado, criando paisagens próprias, balizando o povoamento, fazendo nascer cidades, abrindo zonas pioneiras, desenvolvendo os centros urbanos, propiciando o desenvolvimento das ferrovias, fazendo surgir uma unidade socioeconómica bem definida, como a fazenda do café, (…) canalizando levas e levas de imigrantes das mais variadas procedências, fazendo de São Paulo verdadeiro cadinho das mais diversas etnias, (…) influindo na vida política do país, (…) permitindo o enriquecimento e o embelezamento da Capital do Estado, tornando Santos o maior Porto do Brasil, (…) dando nascimento a inúmeras atividades conexas, tanto no comércio como na indústria, (…) abrindo as possibilidades para a industrialização e para toda a sorte de melhoramentos materiais, que tornaram São Paulo, desde o começo do século, uma área bem distinta dentro da Federação.” MATOS, Odilon Nogueira de; Café e Ferrovias; Arquivo do Estado de São Paulo, 1981; pp.56-57.

3 Citando Adolpho A. Pinto: “Nomeado o Dr. João Ernesto Viriato de Medeiros engenheiro chefe das obras e contractada a execução d’estas, mediante concorrência pública, com os empreiteiros Angelo Thomaz do Amaral, João Pereira Darrigue Faro e Heitor Rademaker Grunewal, em 15 de março de 1870 eram encetados os trabalhos de construção da estrada, que media 45 kilometros de extensão, e tinha a mesma bitola de 1,60m da estrada de Santos a Jundiay.” PINTO, Adolpho A.; História da Viação Pública de São Paulo; São Paulo: Governo do Estado de São Paulo; Edição de 1977; p.40.

4 POZZER, Guilherme Pinheiro; A Antiga Estação da Companhia Paulista em Campinas: estrutura simbólica transformadora da cidade (1872-2002); Dissertação de Mestrado apresentada no Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas na Universidade Estadual de Campinas; UNICAMP, Campinas, 2007; pp.36-37.

5 Citando Adolpho A. Pinto: “Concluidas as obras sem accidente digno de nota, a 11 de agosto de 1872 fazia-se solemne inauguração de toda a linha até Campinas, comparecendo ao acto, que foi alli celebrado com tres dias de festas populares, o Presidente da Provincia, Conselheiro Francisco Xavier Pinto Lima e grande concurso de pessoas gradas da capital e outras localidades.” PINTO, Adolpho A.; Op. Cit.;p.40.

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