quarta-feira, 29 de abril de 2009

Os Pelourinhos


Pelourinho de Águas Belas


Em qualquer povoado, existe sempre um lugar central onde decorrem os eventos essenciais da vida comunitária e é aí que geralmente se localiza o principal equipamento rural. A igreja paroquial, a capela, o pelourinho, a fonte e o busto de um ou outro benemérito, são geralmente erigidos no centro da povoação, definido pelo respectivo largo. Aí se reúnem os aldeãos nos dias de mercado, de feira ou de festa dedicada ao santo patrono, datas que se revestem de um carácter excepcional em relação à rotina quotidiana.
Tal como já tive a oportunidade de referir em crónicas anteriores, os cruzeiros, alminhas, fontes e pequenos templos de expressão rústica multiplicam-se um pouco por todo o concelho de Ferreira do Zêzere, muitas das vezes fruto da iniciativa popular. Tal dispersão deve-se ao tipo de povoamento próprio da região, em que os núcleos populacionais se sucedem numa continuidade pouco definida, pelo que, apenas para as sedes de freguesia do concelho, se pode falar da existência de um autêntico lugar central, ou seja, de um largo comunitário verdadeiramente assumido. Aí, o largo tende a confundir-se com o adro, ou seja, com o espaço amplo que se desenvolve imediatamente em torno da igreja matriz e que é ocupado pelas supracitadas actividades de expressão comunitária.
É esse o resultado do carácter agregante do templo sobre a comunidade, e que se corporiza igualmente na edificação dos mais distintos monumentos de expressão e necessidade públicas, de que são exemplo os pelourinhos. Um Pelourinho define um marco jurisdicional, geralmente colocado em lugar público, por ser aí exercida a justiça local. Por esta mesma razão, encontra-se associado aos mecanismos de administração territorial, surgindo junto da câmara, tribunal, cadeia ou forca, quando não se confundia com esta última.
Tal era o caso do hoje extinto pelourinho da Vila de Ferreira do Zêzere, o qual, segundo António Baião, foi instituído em 1513, a pedido de El-Rei D. Manuel I, junto da forca da mesma vila. Mais tarde, por volta de 1765, o monumento seria transferido para o lugar de Santo António, próximo do antigo edifício dos Paços do Concelho. Também o pelourinho de Pias foi erigido junto das casas da câmara e da cadeia, na praça da antiga vila, onde ainda hoje aí se encontra. De acordo com Carvalho da Costa, Pias foi convertida em vila por carta de D. João III, datada de 25 de Fevereiro de 1534, pelo que o respectivo pelourinho deverá ter sido instituído sensivelmente nesta altura. A este monumento se refere o Dr. Pedro Álvares, no seu Tombo da Mesa Mestral, do seguinte modo: «[este pelourinho] é de uma coluna alta de pedra com sua vasa e degraus de pedraria e por cimalha uma figura de homem.»

Pelourinho das Pias


De facto, o pelourinho de Pias trata-se de uma obra talhada em pedra calcária, elevada sobre um pódio de três degraus, sendo o fuste, cilíndrico e liso, rematado por um capitel compósito, no qual se parece ainda vislumbrar, esculpida na cantaria, a tal figurinha de homem a que alude o Dr. Pedro Alvares. Porém, a cantaria deste monumento apresenta-se bastante erodida devido à acção dos agentes atmosféricos e às vicissitudes do tempo, pelo que grande parte da informação escultórica da cimalha se encontra desgastada, tendo perdido muito do seu pormenor. Por sua vez, no pódio detectam-se várias zonas de fractura.
Mas, na região ferreirense, para além do pelourinho de Ferreira do Zêzere e de Pias, foi igualmente erigido um outro, no antigo Morgado de Águas Belas, junto à quinta dos senhores destas terras. De acordo com António Baião, Águas Belas foi convertida em morgado a 6 de Dezembro de 1356, tendo então recebido esta herdade Rodrigo Álvares de Pereira, irmão consanguíneo de D. Nuno Álvares de Pereira e filho de D. Álvaro Gonçalves de Pereira, com todas as suas dependências, senhorio, couto, honra, jurisdição e padroado da igreja de Nossa Senhora.
Não se sabe ao certo quando terá sido instituído o correspondente pelourinho, mas este ostenta ainda no fuste cilíndrico o brasão de armas dos Pereiras, com a sua cruz de Calatrava no escudo, sobrepujado de coroa aberta. O monumento, que se eleva sobre um pódio de três degraus, talhado em pedra calcária, é rematado em ábaco, a que se sobrepõe uma semiesfera de talhe muito grosseiro. A cantaria encontra-se enegrecida, não só devido à acção dos agentes atmosféricos, mas igualmente em virtude da deposição de poeiras e fuligens várias, resultantes do tráfego automóvel que circula na estrada alcatroada que passa junto ao pelourinho. Por fim, registam-se ainda sobre a superfície pétrea fenómenos de colonização biológica, onde os líquenes são os principais agentes colonizadores. Não obstante, o monumento e correspondente enquadramento foram reabilitados no decurso de um conjunto de intervenções camarárias, desenvolvidas por volta de 1980.

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