quarta-feira, 29 de abril de 2009

Igreja de Nossa Senhora da Graça de Águas Belas

 
Ao centro da povoação de Águas Belas ergue-se a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Graça, antecedida pelo costumeiro adro no qual são realizadas as festas anuais em honra da padroeira. De acordo com Paulo Alcobia Neves, o templo foi construído entre 1894 e 1897, sob o patrocínio do banqueiro Conde de Burnay, pois consta que este nobre precisava dos votos dos aguabelenses para ser eleito deputado, tendo então contribuído com 50% do numerário necessário para a construção da actual igreja. Esta viria a substituir o primitivo edifício religioso, que se localizava na sede da antiga Vila de Águas Belas, e que já em 1758 é citado pelo pároco José da Mota Ribeiro, possuindo por esta mesma altura cinco altares: um da Senhora da Graça; outro do Espírito Santo; outro de S. Bartolomeu e Almas; o quarto de Nossa Senhora do Rosário e o quinto de Jesus. Do ponto de vista arquitectónico, a Igreja de Nossa Senhora da Graça apresenta-se como uma construção de carácter eclético, em que as marcas de inspiração clássica transparecem de forma tímida no arco de volta perfeita do portal principal. Possui planta longitudinal de nave única e cobertura em telhado de 2 águas, destacando-se do corpo central do templo dois volumes correspondentes às salas de sacristia que ladeiam a capela-mor. Na fachada principal foi adossada uma torre sineira, de marcada verticalidade, na qual se rasgam as linhas simples do portal principal, sendo todo este volume avançado em relação ao corpo central do edifício.
 
Pelo interior, e sobre a entrada principal, ergue-se um coro-alto, enquanto que do lado direito se desenvolve uma pequena câmara que funciona como baptistério, dotado da correspondente pia baptismal, provavelmente coetânea da época de construção do templo. O tecto do corpo central, bem como o da capela-mor, é madeirado em 3 planos, enquanto que o pavimento se encontra coberto por mosaico cerâmico. Por fim, acede-se ao altar-mor através de um arco cruzeiro de volta perfeita, alteado num lanço de três degraus.
   
O interior do templo é dotado de dois altares laterais, construídos em talha policromada, sendo o do lado do Evangelho dedicado a Nossa senhora do Rosário. Trata-se de uma belíssima imagem do séc. XVIII, de talhe erudito, e é muito provavelmente a ela que se refere o pároco José da Mota Ribeiro em 1758. Já do lado da Epístola, o altar é dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, imagem de produção recente. O altar-mor, obra seiscentista, é proveniente da antiga igreja, e nele se encontra a padroeira: Nossa Senhora da Graça, imagem de porte eclético, a qual, coroada, ostenta na mão um ceptro, símbolo do seu poder, e segura nos braços o menino Salvator Mundi, igualmente coroado. É esta imagem ladeada por duas esculturas representativas de Santo António com o Menino e de S. Francisco de Assis.
  
Na antecâmara do portal principal preservam-se, em nichos laterais, duas esculturas de pedra quinhentistas, provenientes da primitiva igreja, as quais ainda conservam vestígios de policromia. Representam S. Judas Tadeu (0.680m altura) e S. Bartolomeu (0.705m altura), cujo talhe rude e as proporções atarracadas denunciam a sua produção popular.
Para além destas, conserva-se na sacristia um Sto. António (0.730m altura) do século XVI, esculpido em pedra, e igualmente resgatado ao templo anterior. Do seu espólio ressalta ainda a magnífica custódia em prata dourada cinzelada, datada do século XVIII que, de acordo com Maria Emília Baptista, terá sido ofertada por uma piedosa fidalga do extinto Solar do Morgado de Águas Belas a qual, tendo-lhe morrido uma filhinha na flor da idade, resolveu fundir todo o seu ouro e assim mandar fazer esta preciosa peça. Para além da custódia, guardam-se várias peças de prata, de reduzido valor artístico, tais como uma cruz processional, os castiçais de uma banqueta, um cálice e várias jarras. Por fim, deve ser referido que, numa das últimas campanhas de intervenção, foi aplicado às paredes interiores do templo um silhar de azulejos de produção industrial, que dificilmente se enquadra no esquema decorativo original. Apresenta o referido silhar uma altura de 8 azulejos, em tons de azul e branco, os quais se repetem de acordo com um módulo de 2X2/2 unidades. É o tapete azulejar delimitado por um friso no limite superior e por cercadura no limite inferior. Conclua-se que o edifício está reabilitado e que recebe manutenção regular, pelo que, aparentemente, o estado de conservação do imóvel e do correspondente património integrado se encontra estabilizado.

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