quarta-feira, 29 de abril de 2009

A Arquitectura Religiosa Ferreirense


Define-se por Templo o lugar no qual é consagrado culto a uma determinada entidade mística, expressa geralmente na forma de um ícone ou imagem sagrada que a representa. Dessa forma, e numa concepção teológica da realidade, os conceitos de templo, imagem e culto permanecem indissociáveis, não se bastando a si próprios. Entre os fiéis, o templo é tido como “a Casa de Deus”, ou seja, a estrutura que acolhe a divindade e que, simultaneamente, exerce uma força securizante sobre a comunidade que para ela conflui, impedindo que esta se dissocie. Por essa razão, ocupa ainda um lugar central nos povoados rurais, definindo os ritmos sazonais próprios da sua existência pois, se o poder de integração da comunidade aldeã se exprime no modo como esta cuida das suas igrejas ou capelas, sempre que um determinado povoado ameaça desagregar-se o correspondente templo entra em igual trajectória decadente, chegando muitas das vezes à ruína. Dado o forte pendor rural do Concelho de Ferreira do Zêzere, não admira que os exemplares de arquitectura religiosa sejam ainda bastante numerosos nesta região. Ao todo, foram contabilizados 89 edifícios religiosos, dos quais 45 ainda se mantêm ao culto, 29 se apresentam arruinados ou irremediavelmente perdidos e apenas 15 fazem parte de outros conjuntos edificados, incluindo-se neste último grupo as pequenas capelas de edificação particular que se dispersam um pouco por todo o Concelho. No total, a freguesia de Areias é a que denuncia maior número de templos (21), seguindo-se Beco (14), Ferreira do Zêzere (12), Chãos (11), Dornes (10), Paio Mendes (7), Águas Belas (6), Igreja Nova do Sobral (4) e Pias (4).


No que se refere aos templos funcionais, a generalidade dos edifícios religiosos incluídos neste grupo destaca-se do conjunto das habitações do povoado pela sua brancura e altivez, sendo a verticalidade do templo acentuada pela torre campanária que, muitas das vezes, se ergue adossada à fachada principal. Aí repousa o sino, cujo repicar é altamente mobilizador, ritmando não só o quotidiano, mas igualmente o tempo de vida de cada um, ao fazer-se ouvir por ocasião de um nascimento (baptizado), casamento ou morte. Ao nível da cobertura elevam-se ainda uma ou várias cruzes, algumas das quais se mantêm iluminadas durante toda a noite, a par de agitados cata-ventos. Do ponto de vista estrutural, a maioria destes edifícios é constituída por paredes de alvenaria, rebocadas a cal e emolduradas por elementos de cantaria de natureza calcária; porém, recentemente têm vindo a ser reconstruídos a betão, total ou parcialmente, alguns destes templos. O traçado é geralmente simples, de linhas rectas e simétricas, que se desenvolvem a partir de um corpo central de planta longitudinal, destacando-se nos templos de menor dimensão o volume saliente da sala de sacristia que, pelo exterior, surge acoplada à capela-mor. O interior, frequentemente pouco iluminado, apenas adquire maior riqueza nas igrejas paroquiais, local onde geralmente se concentra o património móvel e integrado mais importante da freguesia. Nestes casos, o requinte arquitectónico aprimora-se, multiplicando-se as arcarias e as capelas laterais com os seus ornatos, as formas escultóricas insinuantes ou os tons vibrantes da nossa pintura ou azulejaria, a par de outros tantos rigores decorativos. Porém, nos templos mais modestos, vence o despojamento decorativo, das naves reduzidas e pouco iluminadas, sem adornos, enquanto que na parede fronteira, que serve simultaneamente de capela-mor, repousa a imagem padroeira, por vezes recolhida num retábulo modesto ou, nos casos mais simples, num pequeno oratório.


No que se refere aos templos disfuncionais, são incluídos neste grupo todos os edifícios religiosos arruinados, parcial ou totalmente desaparecidos e que, por essa mesma razão, já não mantêm a sua função cultual. Tal como já foi referido, foram contabilizados 29 edifícios nesta situação, faltando apurar a localização correcta de 14 templos, pelo simples facto de actualmente já não existirem quaisquer vestígios da sua estrutura. Por fim, no terceiro e último grupo em que é possível classificar a arquitectura religiosa ferreirense, são incluídos todos os templos de edificação particular que, na generalidade dos casos, surgem na dependência de importantes quintas e/ou solares. Quando tal ocorre, o edifício religioso ocupa frequentemente parte da fachada principal do edifício habitacional, mas pode igualmente surgir como uma construção independente. Dos 15 templos contabilizados neste grupo, apenas 6 ainda conservam a sua função cultual, tendo sido mesmo reabilitados; os restantes, para além de já não servirem ao culto, encontram-se por vezes arruinados e os seus espólios deslocados.

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