segunda-feira, 25 de maio de 2009

Igreja de São Silvestre dos Chãos

De acordo com António Baião, os motivos de fundação da igreja de São Silvestre dos Chãos são referidos pela Visitação das Igrejas da Jurisdição de Tomar, feita pelo Dr. Cristóvão Teixeira em 1554. Acontece que, por esta altura, os moradores dos Bairros, sujeitos à paróquia de Santa Maria de Areias, queixavam-se por não poderem ser socorridos com os Sacramentos da Igreja. Para além disso, as crianças corriam grande perigo quando as queriam baptizar, especialmente no Inverno, por causa dos maus caminhos e das ribeiras que tinham de atravessar, enquanto que os defuntos partiam sem o conforto da Extrema-Unção. Por essa razão, os populares pediam um templo para o lugar dos Chãos, o que veio a ser consentido pelo prelado de Tomar, iniciando-se os trabalhos logo nesse ano de 1554. Apesar de fundada no século XVI, a igreja de São Silvestre dos Chãos pouco preserva da sua organização arquitectónica original, em resultado das diferentes campanhas de remodelação a que foi sujeita ao longo dos tempos. Não obstante, a planimetria do imóvel mantém o seu esquema longitudinal, sendo que a fachada principal, idêntica à da Matriz do Beco, é igualmente rematada por uma empena triangular sobrepujada pela cruz de Cristo. De traço claramente maneirista, apenas ostenta um portal de verga recta, a cujo entablamento se sobrepõe uma grande janela rectangular. Do lado direito foi adossada uma torre sineira, composta por dois registos, sendo o primeiro constituído por dois cunhais e três frestas rectangulares e, o segundo, por quatro campanários que se rasgam em cada uma das faces da torre e aos quais se sobrepõe uma cobertura piramidal que remata todo o volume. Para além do portal principal, existem outros dois localizados em cada uma das fachadas laterais, aberturas que, juntamente com duas pequenas janelas que se rasgam no corpo central, contribuem para iluminar o templo.
Já pelo interior, sobre a entrada principal eleva-se um coro alto, ao qual se acede por meio de um lanço de escadas colocado do lado direito. No lado oposto localiza-se o baptistério, dotado da correspondente pia baptismal, peça constituída por uma taça gomada que se desenvolve a partir de um pequeno pilar assente sobre anel.
No corpo central, de nave única, existem vários altares, fundados em épocas distintas e consagrados a diferentes oragos. Em cada uma das laterais, junto ao arco cruzeiro, foram instituídos dois altares, dedicados ao Sagrado Coração de Jesus e a Nossa Senhora de Fátima. Os respectivos retábulos, esculpidos em pedra calcária e idênticos entre si, são constituídos por uma arcaria tripartida, em arcos de volta perfeita, que assentam sobre quatro pares de esguios colunelos.
No altar dedicado ao Sagrado Coração de Jesus foram esculpidos, nos tímpanos da arcaria do retábulo, dois corações trespassados que ladeiam uma pequena flor. Neste altar, acompanhando a imagem do orago principal, existem ainda duas pequenas esculturas quinhentistas de produção popular, representativas de Santo Antão e de uma Nossa Senhora com uma pêra na mão e o Menino ao colo.

Por sua vez, no altar consagrado a Nossa Senhora de Fátima, para além desta imagem destacam-se ainda uma Santa Filomena e um São Silvestre quinhentista, verdadeiro orago desta igreja, aqui representado como Papa.
  
No arco cruzeiro localizam-se outros dois altares, preenchidos por retábulos executados em talha policromada, sendo o do lado do Evangelho consagrado a Nossa Senhora com o Menino e o do lado da Epístola dedicado a Santo António com o Menino e a São Sebastião.
Acede-se então à capela-mor, cujo respectivo altar, executado em talha policromada, é idêntico aos já descritos altares colaterais, e em cujo nicho central se mantém uma imagem de Cristo crucificado. Este espaço é recoberto por meio de uma abóbada de caixotões e revestido por um silhar de azulejos de produção industrial, executado em tons de azul e branco e obedecendo a um módulo de repetição de 2X2/2 unidades. Na parede do lado do Evangelho rasga-se a entrada de acesso à sacristia, espaço igualmente acessível pelo exterior.
Nesta sala preservam-se três elementos embutidos nas paredes, que me parecem ser coetâneos da época de construção do templo: um pequeno armário de batentes lisos assente sobre uma mísula de pedra; um lavatório em cuja cantaria foi lavrada a cruz de Cristo ladeada por dois ciprestes; um altar consagrado a Santa Ana, cujo imagem se insere num pequeno nicho talhado em pedra e recentemente pintado. É perceptível o requinte com que esta última peça foi executada: rematado por uma abóbada em forma de concha, o pequeno nicho é emoldurado por um arco de volta perfeita, no qual foram talhados losangos preenchidos por flores e em cujos tímpanos foram igualmente esculpidos dois elementos florais. Por fim, faz ainda parte do espólio desta igreja um Prato de Oferta, em latão, datado do século XVI. Nesta peça, para além da costumada inscrição, foram ainda representados, ao centro e em relevo, dois homens trajados à maneira do quinhentismo, transportando consigo um grande cacho de uvas.

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